42 – O CARÁTER DE DEUS

 

 

“A Bíblia nos revela que Deus é bom. Sendo Deus bom, Ele não precisa de alguém no céu a rogar por nós, como que tentando convencê-lo de que deve nos abençoar”

                                                                      (pág. 53)

       

Não há dúvida quanto ao caráter de Deus, sua bondade, sua benevolência.

 

É a primeira vez que vejo alguém dizer que se orarmos ou pedirmos oração estaremos duvidando da bondade de Deus. Entretanto, foi o próprio Filho de Deus que nos ensinou a estar sempre em oração: “Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto. Pois todo aquele que pede, recebe; o que busca acha e ao que bate a porta lhe será aberta” (Mt 7,7-8). O Apóstolo Paulo escreveu: “Orai sem cessar” (1ª Ts 5,17), e também: “Eu recomendo, pois, antes de tudo, que se façam pedidos, orações, súplicas e ações de graças por todos os homens (…) a fim de que levemos uma vida calma e serena, com toda piedade e dignidade” (1ª Tm 2,1-2). Tenho certeza que nem Jesus e nem São Paulo duvidavam da bondade de Deus quando pediam para que estivéssemos sempre em oração. Jesus ainda certa vez contou uma parábola “para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, sem nunca desistir” (Lc 18,1) dizendo que um juiz atendeu a viúva por causa da insistência de seus pedidos.

 

Perceba: não que Deus precise de alguém no céu a rogar por nós, mas Deus quer precisar. Do mesmo modo como Ele não precisa do senhor no pastoreio dos seus fiéis, mas Ele quer precisar. Na Teologia se diz que Deus age através das Causas Segundas, ou seja, através das pessoas e das coisas criadas.

 

Deus não precisa da oração de ninguém para convencê-lo a nada, pois Ele sabe do que é que nós precisamos antes mesmo que façamos os pedidos (cf. Mt 6,8), mas acontece que Deus quer que todos nós nos encontremos na oração e, apesar de saber de tudo, e saber o que deve ser feito, Ele quer ter diálogo com sua criatura e quer que nos abramos à caridade da oração como ensina São Paulo em 1ª Cor 13,13: “Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade. A maior delas, porém, é a caridade”. É a caridade que permanece, sendo a maior delas. Na bem-aventurança não existe mais a fé, pois já se vêem a realidade divina; não existe mais a esperança, pois a criatura já atingiu sua plenitude; apenas permanece a caridade, caridade de estar em oração por aqueles que ainda seguem o seu curso terrestre. “Invocar a Santíssima Virgem, não é desconfiar da misericórdia de Deus, mas temer a própria indignidade” (Santo Afonso Maria de Ligório, Na Escola dos Santos Doutores, 754).

 

Em 15 de Setembro de 1983, teólogos ortodoxos, luteranos, reformados, calvinistas e anglicanos assinaram em conjunto o documento “Declaração de Malta” onde reconhecem a realidade da intercessão dos Santos após terem estudado o assunto juntamente com teólogos católicos. Veja um trecho:

 

 “O fato de que, mesmo no céu, à direita do Pai, Cristo roga por nós, indica-nos que a morte não rompe a comunhão daqueles que durante a própria vida estiveram pelos laços da fraternidade unidos em Cristo. Existe, pois, uma comunhão entre os que pertencem a Cristo, quer vivam na terra, quer, tendo deixado os seus corpos, estejam com o Senhor (cf. 2ª Cor 5,8; Mc 12,27). Neste contexto, compreende-se que a intercessão dos Santos por nós existe de maneira semelhante à oração que os fiéis fazem uns pelos outros. A intercessão dos Santos não deve ser entendida como um meio de informar Deus das nossas necessidades. Nenhuma oração pode ter esse sentido a respeito de Deus, cujo conhecimento é infinito. Trata-se de uma abertura à vontade de Deus por parte de si mesmo e dos outros, e da prática do amor fraterno. (…) Por ouro lado, quaisquer que sejam as nossas diferenças confessionais, não há razão alguma que impeça unir a nossa oração a Deus no Espírito Santo com a da liturgia celeste e, de modo especial, com a da Mãe de Deus” (§ 3,4 e 5).

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