A Mãe da Igreja

Dom Sinésio Bohn
Bispo de Santa Cruz do Sul

No início de novembro, trezentas mil pessoas participaram em Santa Maria (RS) da Romaria da Medianeira, com a presença do Núncio Apostólico e de Dom Ivo Lorscheiter, Bispo de Santa Maria.

A Diocese de Santa Cruz do Sul tem várias romarias em honra de Nossa Senhora, sendo a mais concorrida na própria cidade de Santa Cruz do Sul, ao Santuário de Schoenstatt, a Mãe Três Vezes Admirável. A pergunta que sempre de novo se faz é a seguinte: Donde vem a tradição de prestar culto (nunca adoração!) à Mãe de Jesus?
A Igreja nasceu assim. Conta o livro dos Atos dos Apóstolos que, após a ascensão de Jesus aos céus, os Apóstolos voltaram a Jerusalém, reuniram-se em oração para aguardar a vinda do Espírito Santo “Persistiam unânimes em oração com Maria, a mãe de Jesus” (At 1,14). Quer dizer, a Igreja orante conta com a presença de Maria desde a era mais primitiva. Antes mesmo da morte e ressurreição de Jesus, Maria aparece em momentos importantes da vida do povo. Um desses momentos é o casamento.

Conta-nos João que o primeiro milagre de Jesus aconteceu na presença e por intercessão de Maria, nas bodas de Caná (Jo 2, 1-11). É o jeito da mãe.

O Apóstolo João narra os últimos momentos de Jesus no Monte Calvário. Maria marcou presença tanto na via sacra como ao pé da cruz. Foi nesta hora que Jesus manifestou sua profunda preocupação por sua mãe: “Jesus, vendo a mãe e ao lado o discípulo predileto, disse ao discípulo: Eis a tua mãe”! (Jo 19, 26-27).

A tradição sempre vê este fato com sentido mais profundo: Maria recebe o discípulo como filho. No discípulo recebe todos os discípulos, isto é, a própria Igreja nascente. A Igreja, portanto, não é órfã, ela tem mãe.

A Igreja nunca abandonou a tradição apostólica de orar com Maria, de fazer festa com Maria, de sofrer e de esperar com Maria.

Também hoje precisamos de novo implorar o Espírito Santo e seus dons sobre nós, nossas famílias, comunidades e sobre a Igreja inteira. Perseveremos unânimes em oração, com Maria, a mãe da Igreja.

Nossa vida cotidiana, com suas alegrias e aflições, festas e dores, vivida na presença de Deus, tem mais sabor quando acompanhada pela Mãe que recebemos do próprio Salvador.

E quando o sofrimento nos visita, lembremo-nos de nos colocar com Maria e João ao pé da cruz. Foi aí que o Filho de Deus chegou ao extremo do amor de oferecer a própria vida pela nossa redenção.

Junto à cruz de Jesus ouviremos de novo a palavra de consolação: “Eis aí a tua mãe”!


Disponibilizado pela CNBB em 23/11/2003

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